Você sabe o que é Não-Violência?
Gandhi foi o maior divulgador da Não-Violência em todo o mundo, pregou uma lenta revolução pacifista em seu país, sem utilizar nenhuma espécie de arma, tentando libertar a Índia dos britânicos que governaram-na arbitrariamente. Gandhi queria que seu país fosse livre, que o povo não fosse tratado como escravo e que todos tivessem direitos iguais, independente do sexo, casta, raça ou religião.
A palavra Não-Violência não foi inventada por Gandhi, ele sempre ressaltava que a não-violência era tão velha quanto as montanhas. Na verdade, é um termo sâncristo formado pelo prefixo negativo “A” e pelo substantivo "Himsa" que significa "Violência" - "O desejo de causar dano ou de causar violência a um ser vivo", daí surgiu o termo "Ahimsa", que quer dizer "Não-Violência".
O Ahimsa é portanto: o reconhecimento das forças instintivas sobre a razão; o refreamento do ódio, a substituição da reação pela ação consciente; o domínio e a renúncia ao desejo de violência que há no interior do homem e que o conduz a querer afastar, excluir, eliminar, odiar, agredir e matar o outro homem.
Contudo, dentro da visão de Gandhi, a definição do termo é a seguinte: “A não-violência perfeita é a abstenção completa da intenção de causar mal a qualquer ser vivo”. “Em sua forma ativa, a não-violência é a tolerância para com qualquer ser vivo”.
Segundo o filósofo Jean-Marie Muller (Tradução de Inês Polegato), ele compreende que para Gandhi: "A não-violência não é apenas nem em primeira instância um método de ação, é uma atitude, isto é, um olhar, um olhar de bondade para com o outro homem, sobretudo em relação ao homem diferente, o desconhecido, o estrangeiro, o intruso, o inoportuno, o inimigo, um olhar também de compaixão para com o homem oprimido, aquele que sofre a injustiça, a humilhação, o ultraje."
Outra palavra utilizada por ele para reforçar esta atitude de bondade e complementar o ideal de cultura da não-violência foi "Sathya" que também em sânscrito, significa "Verdade". Com isso, o tema central do pensamento e das ações do grande pacificador indiano, se baseava justamente nesses dois conceitos: "Ahimsa" e "Sathyagraha" que se resume na: Conquista da Verdade através do uso da Não-Violência.
Segundo seus biógrafos, toda a vida de Ghandi foi uma luta pela conquista da verdade e pela necessidade diária de praticar a não-violência. Suas falas, seus escritos, seus discursos, seu comportamento; tudo invocava constantemente a verdade e a não-violência como possibilidade de resistência pacífica. Segue abaixo, como exemplo, alguns dos seus pensamentos concernentes a esta prática ideológica:
"A não violência nunca deve ser usada como um escudo para a covardia. É uma arma para os bravos."
"Quem busca a verdade, quem obedece a lei do amor, não pode estar preocupado com o amanhã."
"A humanidade não pode liberar-se da violência mais do que por meio da não-violência."
"A verdade jamais prejudica a uma causa que é justa."
"A violência é o medo aos ideais dos demais."
"A verdade é totalmente interior. Não há que a procurar fora de nós nem querer realizá-la lutando com violência com inimigos exteriores."
"O que se obtém com violência, somente se pode manter com violência."
"Unir a mais firme resistência ao mal com a maior benevolência para com o malfeitor. Não existe outro modo de purificar o mundo."
Ghandi viveu exatamente o oposto da violenta "Lei do Talião", que é a antiga lei do "olho por olho, dente por dente". Gandhi seguia a mesma ideologia dos grandes profetas: Sidartha Gautama "O Buda" e Jesus Cristo, onde a não cooperação com o mal deveria ser um dever sagrado e de todos.
Ele acreditava que as religiões que separam seus fiéis uns dos outros, que não seguem a ideologia do amor e da unidade na diversidade, este um grande valor da cultura da não-violência, jamais poderá pregar a paz universal, pois não existe "aquela religião" que seja "a certa" - todos somos iguais e todos temos os mesmos direitos, ideologias diferentes existem, mas todos somos irmãos. Segue abaixo, outros exemplos dos seus ricos pensamentos relativo a importância do amor como superação da violência nas relações humanas:
"Olho por Olho, e o mundo acabará cego."
"A não-violência não existe se apenas amamos aqueles que nos amam. Só há não-violência quando amamos aqueles que nos odeiam. Sei como é difícil assumir essa grande lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis de realizar? O amor a quem nos odeia é o mais difícil de tudo. Mas, com a graça de Deus, até mesmo essa coisa tão difícil se torna fácil de realizar, se assim queremos."
"O amor é a força mais sutil do mundo."
"Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio."
No mundo atual, a Não-Violência vem sendo amplamente utilizada em movimentos pela construção da paz, pelo trabalho digno, pela necessidade de tolerância religiosa, pela defesa do meio ambiente, pelos direitos das mulheres, etc.No entanto, na sua essência a reflexão filosófica do princípio da não-violência era utilizada para fundamentar a humanidade do homem e na experimentação política dos métodos de ação não-violenta que permitem a resolução pacífica dos conflitos.
Para vencer a violência Gandhi acreditava no desenvolvimento de uma Cultura da Não-Violência e na educação, como a maior força motriz deste princípio, apostava no potencial humano, que estava na necessidade do indivíduo de conhecer a si mesmo, suas potencialidades e dificuldades para poder se autogovernar e colaborar com a Humanidade em torno de uma cidadania política, consciente, ética, verdadeira, justa amorosa e pacífica; daí ele afirmava que:
"A verdadeira educação consiste em obter o melhor de si mesmo. Que outro livro se pode estudar melhor do que o da Humanidade?"
Com isso, neste processo educacional faz-se necessário ampliar a percepção acerca desta proposição, daí novamente Jean-Marie Muller afirma que: "Gandhi nos convidava a revisitar as heranças de nossas tradições históricas – tanto filosóficas, religiosas quanto políticas - e a tomar consciência de todas as cumplicidades com o império da violência mantidas até hoje por nossa cultura...".
Ainda segundo Muller, completando o pensamento anterior, nesta perspectiva gandhiana, ele assinala dois aspectos que ameaçam o desenvolvimento da Cultura da Paz e da Não-Violência e que merecem a nossa atenção e reflexão dentro e fora das escolas:
- "O que ameaça a paz no mundo e em cada uma de nossas sociedades são as ideologias fundadas na discriminação e na exclusão – quer se trate de nacionalismo, racismo, xenofobia, integrismo religioso ou toda e qualquer doutrina econômica fundamentada apenas na procura pelo lucro – todas comprometidas com a ideologia da violência."
- "O que ameaça a paz, definitivamente, não são os conflitos, mas a ideologia que faz os homens acreditarem que a violência é o único meio de resolver tais conflitos. Essa ideologia ensina o menosprezo ao outro, o ódio ao inimigo; arma os sentimentos, os desejos, as inteligências e os braços. Ela instrumentaliza o homem fazendo dele um homicida com a consciência tranqüila. Portanto, é ela que deve ser combatida em primeiro lugar."
Como reflexão sobre este assunto tão instigante, fica a pergunta: É possível educar sem violência? Dentro dos príncipios da Não-Violência como nos ensinou Gandhi? Comente!
"A Não-Violência é a maior força da Humanidade"
Mahatma Gandhi
Fontes:
PS: O site do Comitê Paulista pela Decada da Cultura da Paz, publicou um artigo interessante, intitulado de "64 Maneiras de se praticar a Não-Violência", acesse o link abaixo e exercite-se com seus alunos, familiares, vizinhos, etc:
http://www.comitepaz.org.br/64_maneiras_1.htm
Muita Paz!