“As guerras (a violência) nascem no espírito dos homens, e é nele, primeiramente que devem ser erguidas as defesas de paz.” Frederico Mayor
Nos últimos anos, pela confusão que se faz com os conceitos entorno do tema violência, evocar a imagem de escolas violentas, tornou-se clichê entre os educadores, principalmente nos centros urbanos.
A violência urbana é de fato, um grande problema social, mas não podemos generalizar, pois mesmo que uma escola sofra com a violência gerada em seu entorno, é importante lembrar que há muito menos violência na escola do que no contexto geral da sociedade e que a escola não apenas incorpora as ameaças do seu ambiente externo, como ela mesma também produz muitos conflitos, embates e exclusões.
Sabemos que ela é difundida e produzida por inúmeras instâncias da nossa sociedade, como a própria escola, o sistema econômico, a família, instituições religiosas, partidos políticos, agremiações esportivas, sindicatos, etc. e que muitas vezes estas mesmas instituições não se dão conta, que de uma forma consciente ou inconsciente elas investem nesta prática.
É preciso que todos nós tenhamos consciência que somos co-responsáveis por esta situação e não existe uma causa absoluta para um ato de violência, mas múltiplas causas, que não devem ser observadas isoladamente.
Infelizmente, o que podemos constatar nos últimos anos é que a violência vem se tornando um traço cada vez mais presente em nossa vida cotidiana. Estamos vivendo não só numa sociedade violenta, sobretudo, numa cultura de violência; Os fatos violentos e os temores por eles gerados ocupam espaço crescente nos corações, nas mentes e nas atitudes das pessoas, em especial dos nossos educandos. Ventura (2000, p. 90), constata que:
“A violência tornou-se cultura nos anos 90 e como tal, tomou conta de corações e mentes, invadiu o imaginário das pessoas, esgarçou o tecido social e fez da agressividade uma prática de beligerância, um comportamento. Produziu uma revolução diabólica e perversa que em pouco tempo mudou a paisagem das cidades, a alma dos habitantes, a conduta, a maneira de morar...”
Assim sendo, a violência vem se tornando de modo profundo uma característica da identidade cultural na atualidade, permeando e influenciando as nossas vidas na contemporaneidade, sendo um instrumento frequentemente utilizado por indivíduos inconsequentes para demonstração de poderes tanto individual, quanto grupal.
E daí surge uma pergunta: Como será as nossas vidas, as das nossas crianças e dos nossos jovens diante de um mundo como este? E a escola, quais são as alternativas educacionais para solucionar ou minimizar este agente perturbador na vida pessoal, social (principalmente na familiar e escolar)?
Sabemos que a escola como todas as instituições da sociedade também sofrem com o aumento da violência e não apenas a violência vinda de fora, mas a violência que pode se desenvolver dentro dela. Mas, é importante salientar que a despeito de tudo, a escola ainda é um dos lugares mais seguros que os educandos podem freqüentar em nossa sociedade.
Neste aspecto, ela pode ser chamada a dar sua contribuição sim, primeiramente buscando responder a estas questões explicitadas para pode ajudar os profissionais que compõem o quadro escolar a perceberem significativas diferenças entre as falsas percepções da realidade e dos seus problemas reais e assim, criarem mecanismos mais adequados para lidar com determinadas situações de violência.
Então, para praticar a paz e entender como ela se constrói, implica imprescindivelmente que nós arte-educadores e toda a comunidade escolar procurem compreender também o conceito e quais são os fatores que podem causar a violência na escola e na vida. Segundo Araújo, Fernandez, Pescarolo e Viana (2001, p.02):
“Conceituar violência é bastante difícil, pois, de forma isolada, pouquíssimos comportamentos podem ser classificados como violentos. Para delimitarmos este conceito adequadamente precisamos considerar o momento histórico, a cultura, a relação e o contexto no qual tal comportamento se deu.”
Portanto, pelo tema violência ser um assunto demasiadamente complexo e amplo, sem uma unanimidade entre os autores pesquisados, para delimitá-lo dentro do que interessa em questão, considerarei um conceito que ajude a problematizar a violência no âmbito escolar e em torno dela, pois é este tipo de violência que vem causando prejuízos incalculáveis para a educação. Então, dentre os autores pesquisados, Michaud (1989, p. 10-12) propõe um conceito mais adequado para este contexto e para a realidade da nossa sociedade atua:
“Violência é o desregramento e o caos de um mundo estável [...] Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas, seja em sua integridade física, moral, em suas posses ou em suas participações simbólicas ou culturais.”
Mesmo sendo uma definição simples, o autor a propõe de uma forma ampla, como sendo uma força quaisquer que provoca rupturas no mundo que muitas vezes consideramos estável, normal, justo e direito. Que vai além da força física, e é vista também como força psicológica ou moral, cultural, social, simbólica que causa danos aos bens e à pessoa ou as pessoas da sua extensão (familiares, vizinhança, etc.).
Refletindo sobre este conceito e o que já foi explicitado anteriormente, pode-se compreender que a violência na escola é um reflexo da violência social, tornando-se um dos temas que mais nos preocupa atualmente e que não poderá ser revertido sem a importante contribuição das escolas.
Mas, não se deve depositar a solução de todos os problemas na educação, pois só poderemos nos livrar completamente da violência quando a sociedade deixar de (re) produzir ou incentivar comportamentos agressivos ao invés de pacíficos. É certo, contudo, que sem um envolvimento efetivo da escola dificilmente se poderá construir soluções efetivas e duradouras para resolver este grave problema.