08 abril 2011

O CASO DA ESCOLA DE REALENGO-RIO E A CULTURA DA PAZ


Que o Cristo Redentor em sua bondade infinita, acolha nos braços da paz e do amor  estas crianças e adolescentes que se foram e tenha misericórdia das que ficaram! 


Caso com estes, onde crianças  e adolescentes foram vítimas da violência na escola em Realengo-Rio sempre causam comoção geral, só que é preciso ter lucidez e discernimento para abordarmos esta triste situação!

No momento somente podemos fazer especulações, não sabemos o que se passou na cabeça do assassino, porém, pela simbologia das suas escolhas, algumas perguntas podem ser feitas: Por que ele escolheu uma escola para cometer o crime? Por que a maioria das vítimas eram do sexo feminino? Por que ele utilizou frases religiosas confusas e desconexas? Onde estava a família deste rapaz?   Nos cabe uma reflexão neste momento... talvez porque na escola ele tivesse sofrido alguma agressão ou abuso; talvez ele tivesse dificuldades nas relações com as mulheres e obviamente elas com ele; talvez a rigidez e a distorção da palavra de determinadas religiões o tivesse empurrado para a culpa e não para a libertação; talvez a sua família fosse ausente...

São muitas as respostas, mas de uma coisa nós podemos tirar como lição desta situação: Não podemos mais educar as nossas crianças e jovens como estamos educandos, precisamos ser mais responsáveis e presentes. Não não podemos educá-los somente para o mundo da ilusão, da fantasia, das falsas compesações, pela agressão e abuso de poder, pela ausência ou virtualidade, etc.

Todos nós somos responsáveis (é preciso sair do papel de vítima) por esta sociedade em que vivemos, que o tempo todo nos vilipendia, maltrata e violenta, basta abrirmos um pouco mais os olhos para perceber e constatar tal situação. Em nossas casas com nossos familiares, nas ruas, nas repartições públicas ou privadas,  nos círculos de amizades, nos relacionamentos, nos templos religiosos, nas ações políticas (políticos são sempre os piores exemplos, salvo alguns poucos) e nas escolas, o que falar da violência no seu espaço interno e em seu entorno?

Esta, sendo considerada o templo do saber e do aprender, deveria ser o lugar de proteção e cuidado, mas sabemos que nem sempre o é, eu mesmo, outros colegas de luta, educandos e funcionários de uma determinada escola daqui de Salvador  fomos vítimas de uma situação semelhante, que não cabe relato no momento, mais que deixaram marcas indeléveis até hoje, em todos nós que vivenciamos momentos de bastante, brutalidade, terror e pânico.

Não quero ser oportunista ou panfletário neste momento, estou muito comovido também, porém é preciso aproveitar a ocasião para refletir que, nas nossas escolas de quase todo o nosso Brasil, crianças morrem todos os dias, vítimas de uma violência tão grave e alarmante quanto esta que constatamos.

Nossas crianças e muitos dos nossos jovens morrem de inanição intelectual e moral todos os dias nos centros escolares,  comprometidos em sua aprendizagem, por  falta  ou por deficiência de conhecimentos que necessitam para evoluir como cidadãos e seres humanos. Esta situação sempre ocorre justamente por conta de uma educação deficitária e sem qualidade, imposta por um sistema perverso e maquiavélico  que oprime e corrompe muitos educadores e funcionários (muitas vezes competentes), mas que descuidam do seu trabalho porque lhes faltam  estímulo, esperança e dignidade como profissionais importantes que são para a nossa  sociedade. 

E por consequência,  mediante situação de descaso,  acabam  produzindo uma  grande massa  de educandos semi-alfabetizados ou analfabetos funcionais, ignorantes e alienandos  de si mesmo e da realidade social  em que vivem. São poucos os que conseguem escapar desta deplorável situação, pois a sua grande maioria por falta de perspectiva de um futuro promissor, tornam-se quase que incapazes de se firmar na vida e como mecanismo de compensação e de sobrevivência acabam suas vidas, indo  por caminhos que consideram mais fácil,  como o da drogatição, da prostituição, das ruas, etc.

Eu sei que é o velho texto batido, que se repete como num disco riscado, mas nunca é demais repetir, para ver se aprendemos pelo menos por osmose. Sabemos que eles, os políticos que estão no poder desorientando intencionalmente a nossa educação, nos querem assim, é interessante para eles que sejamos pobres de conhecimentos material, pessoal, espiritual, cultural, social, político, econômico... porque é mais fácil para nos controlar e manipular. Estão, (e estamos) nos desumanizando e deseducando, daí eu pergunto para todos nós: Por que permitimos isso?

Tá tudo fora da ordem, o desconforto toma conta do mundo e estamos sempre e somente preocupados com o que menos importa na vida! É preciso indignar-se e manifestar-se para mudar, a transformação deve ser o nosso objetivo agora, e daí surge uma outra pergunta: Será que podemos trocar esta cultura de violência, que nos é imposta diariamente, por uma cultura da paz, que possibilita a humanização tão necessária ao homem neste momento?

Penso que esta é a perguta que não quer e que  nunca deve se calar...Necessita muito diálogo e discussões, mas acredito que diante de tantos desvarios, o momento agora é de busca pela cultura da paz e de tomada de ação, urgente! Precisamos agir da maneira que podemos ou sabemos, a paz  dá trabalho e exige mudanças; precisa de coragem e vontade de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, por isso muitos de nós resistimos a este tema, mas penso devemos dar uma chance para a paz e os seus valores em nossas vidas!

É preciso pensar, sentir, falar e agir pela paz, colocá-la em nossas ações cotidianamente, na pauta do dia-a-dia, desde ao acordar até o dormir. É preciso educar-se para a paz, e a aprendizagem é o grande caminho!

Paz é harmonia; é unidade na diversidade; é ser não-violento; é ser responsável pela vida; é amar e ser amado; é cuidar e ser cuidado; é respeito mútuo...Luta e aprendizagem constante, nunca inércia ou sombra e água fresca; é uma luta paulatina contra nós mesmos e contra esta sociedade que insiste em nos destruir e nos colocar em perigo a todo momento.

Um amigo disse-me uma vez que sou ingênuo e que as coisas são mais graves do que imagino... Não sou ingênuo e nem utópico, sei que o processo de violência é histórico e tem interesses excusos e quase obscuros para manter as coisas como estão. Mas, eu acredito na causa,  a paz também tem a sua história e por experiência própria com a temática no meu dia-a-dia  como arte-educador para a construção da cultura da paz, sei que a paz é importante e produtiva no processo educativo e sei também que necessito e necessitamos aprender e vivenciar ainda mais sobre a cultura da paz para que ela seja construída definitivamente em nossas vidas.

Uma das belas aprendizagens que tive com um aluno de 7 anos que se chamava Cícero, num momento de desafio na escola com o trabalho da paz, ele me ensinou  que é preciso realizar algo pela paz  com perseverança e nunca desistir, dar sempre  tempo ao tempo, porque quando plantamos uma sementizinha da harmonia, no momento certo ela germinará,  brotará, crescerá e dará lindas flores e bons frutos da paz, mesmo nos momentos de dificuldades e desarmonia. 

Todos nós educadores, se queremos mudanças, devemos nos comprometer e começar por nós mesmos, porque ainda somos um grande espelho para nossos educandos, temos que buscar a paz (constantemente) e ensinar para eles que ela está dentro e não fora, ela está mais próxima de nós do que imaginamos (está na nossa alma). E se está na nossa alma devemos seguí-la como um farol que nos orienta nos momentos de escuridão das nossas vidas!

Voltando ao assunto da escola violentada, o que podemos fazer pela paz, para ajudar estas famílias que sofrem,  estes profissionais da educação desta escola que estava aniversariando, por estas crianças que se foram e as que ficaram num momento e pelo infeliz que realizou este crime barbáro?

O momento é delicado, porque o trauma é grande para todos, mas de onde estivermos podemos fazer a nossa parte: Orar, meditar, rezar, vibrar por todos em luz para nós que estamos longe e para àqueles que estão próximos, acolher, oferecer a palavra e o ombro amigo e caridoso.

Mentalizemos luz de amor, paz e sabedoria e muitas vibrações positivas, principalmente para as crianças e adolescentes desecarnados, para as que se encontram no hospital, em recuperação ou estado grave e também pelo algoz.  Sei que dirão que estou louco, mas ele  também é um digno de compaixão, é apenas um doente (esquizofrênico, psicopata ou sociopata) mais uma vítima e de si mesmo (das suas sombras) e consequentemente das atrocidades e barbaridades da nossa sociedade corrupta, alienada, ignorante, hipócrita, preconceituosa e desvairada.

Vibremos pela escola Escola Municipal Tasso da Silveira em Realengo, na Zona Oeste do Rio e por todas as escolas do Brasil e do mundo. Que ela volte ao seu trabalho depois dos dias de luto, refletindo, dialogando e discutido o caso com as suas crianças.

Faz-se necessário expor o problema, não é possível esconder, porque já está exposto em todos os meios de comunicação de todos o país e o seu efeito seria ao contrário, provocando nas crianças situações de insegurança e medo. Devemos explicar, propor diálogos e problematizar a questão da violência entre os educandos e educadores na sociedade em que vivemos.

É preciso utilizar a arte e as suas linguagens para propor uma discussão, prestar homenagens, criar desenhos, elaborar textos, escrever cartas... Elaborar o luto de forma criativa poderá ajudar nos caminhos da superação da dor e do sofrimento. Todas as  escolas e as famílias cariocas e brasileiras devem buscar o seu melhor caminho para lidar com o assunto e escutar as crianças no momento em que elas possam falar sobre o assunto, de acordo as suas fases de compreensão e precepção da realidade. 

Ao invés de ficarmos presos à  revolta e a indignação, usemos o momento para trabalhar os conceitos, os procedimentos e as atitudes sobre a Cultura da Paz e Não-Violência Ativa, tratando de temas como: a segurança, a justiça, a solidariedade, o perdão, o amor e o cuidado como consigo e com o próximo, a responsabilidade, o resgate da cidadania,  a ética, etc.


Muita paz para todos e que a paz se faça presente na vida de todos nós, porque somos Potências de Paz!!!!

3 comentários:

Anônimo disse...

OLÁ, SOU EDUCADORA E GOSTARIA DE ATIVIDADES PARA TRABALHAR COM ALUNOS DENTRO DA CULTURA DE PAZ

Jai disse...

Olá!
Irei publicar uma postagem com o teu pedido, para que assim todos também tenham acesso.

Muita paz para você!

Jai

Jaiartes disse...

Que bom que a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, palco do massacre de 12 crianças pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira, no último dia 7,foram retomadas com oficinas de arte e eventos culturais para ajudar na readaptação dos alunos. As aulas regulares ainda devem levar mais duas semanas para serem retomadas. Que todos busquem a paz na continuidade dos estudos!